Os passos de um homem
A quem pertence uma experiência de vida? A experiência
pertence a quem a discursiviza? O caso da experiência herdada seria exemplar
disso? De que caminhos são feitos os atalhos para se chegar à história contada
de alguém? São necessariamente atalhos? Não sei por que questionei essa
escolha, mas essa projeção de si que desemboca numa história contida me parece
mais um longo caminho, sinuoso e complexo, cheio de encruzilhadas, do que a
sorte de encontrar um atalho.
Questões singulares como estas sempre nos tocam
como interesses de pesquisa e sempre nos deixam em meio a uma passagem estreita
entre o conhecimento e o segredo. Quando e em que circunstância podemos
circular com a caneta do destino uma experiência e denominá-la vivência? Seriam
sinônimos estes conceitos? Seriam vizinhos?
Temos
todos uma verdadeira fixação pela própria vida. Nenhuma história se fez
diferentemente. Desde mesmo antes de virmos ao mundo, já somos pessoas
na imaginação de nossos pais, já somos narrados em pequenos chutes ainda
no ventre, nos enjoos, náuseas, sonolência ou insônia, nas faltas de
ar...
Somos
histórias sem começo e sem fim; sem começo porque ninguém pode dizer
onde começou; sem fim porque ninguém pode dizer onde terminará. E no
meio desse turbilhão de incertezas, as narrativas que vamos tecendo
pouco a pouco.